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Aldeias indígenas em Chapecó

As Aldeias Condá e Toldo Chimbangue: resistência e cultura Kaingang no Oeste Catarinense

O Oeste Catarinense é uma região rica em história e cultura, habitada por populações indígenas há milhares de anos. Pesquisas arqueológicas indicam que esses povos já ocupavam a área muito antes da chegada dos colonizadores. Assim como em outras partes do Brasil, o processo de colonização resultou na espoliação de seus territórios e na negação de suas especificidades culturais, o que contribuiu para a redução demográfica e para o aumento dos litígios em torno de suas terras e direitos.

Segundo o pesquisador Jaisson Teixeira Lino (2015), os primeiros habitantes do atual território do sul do Brasil, incluindo o Oeste Catarinense, foram caçadores-coletores nômades, pertencentes aos grupos linguísticos jê e tupi-guarani. Esses povos chegaram à região há cerca de 12 mil anos, trazendo consigo uma rica tradição cultural e uma profunda conexão com o território.

O estudo e a preservação dessa história são fundamentais para reconhecer a importância das populações indígenas na formação cultural e histórica do Oeste Catarinense, além de contribuir para a valorização e respeito de seus direitos.

Aldeias indígenas em Chapecó: Toldo Chimbangue e Aldeia Condá

O Toldo Chimbangue é uma terra de ocupação tradicional localizada entre os rios Irani e Lambedor, com forte conexão indígena ao longo de sua história. Entretanto, essa ocupação foi interrompida com o avanço da colonização, especialmente pelos agricultores vindos do Rio Grande do Sul. A partir da década de 1980, os indígenas do Chimbangue iniciaram uma luta judicial pela recuperação de suas terras. Após muitos anos de resistência e mobilização da sociedade, o decreto presidencial nº 92.253 foi estabelecido em 30 de dezembro de 1985, garantindo a demarcação oficial da Terra Indígena Toldo Chimbangue e o reassentamento dos agricultores que ocupavam a área.

"A Terra Indígena Toldo Chimbangue constitui uma área de retomada de terras, antes ocupada por não indígenas, em sua maioria descendentes de europeus, portanto, sua paisagem é fortemente influenciada pela construção histórica desse lugar. A primeira observação levantada é a continuidade da paisagem antes de entrar na terra indígena e em seu interior. Além de não ser observada nenhuma placa de identificação ou demarcação da área, destaca-se a presença do asfalto na SC 157, que corta a área. Mesmo sob protestos da comunidade, que era contra a pavimentação da via, por conta do aumento da velocidade dos veículos e insegurança gerada para os moradores, em 2012 a via foi pavimentada,
transformando drasticamente a paisagem (Dill, 2019, p. 178)."

A história da comunidade indígena Kaingang da aldeia é detalhada em um livro que aborda o surgimento e constituição da comunidade e pode ser acessado clicando AQUI. 

Já a Aldeia Condá tem uma história um pouco diferente. Ela surgiu de um processo de negociação, devido ao reconhecimento do espaço urbano de Chapecó como território tradicional dos kaingangs. Na década de 1980, esses indígenas ocuparam uma área no bairro Palmital, o que gerou desconforto entre os governantes e a sociedade local, que consideravam inadequada a presença indígena no espaço urbano. Como solução, a Funai identificou uma área de 2,3 mil hectares em Água Amarela, na zona rural de Chapecó, para a criação da Reserva Indígena Aldeia Condá.

"A comunidade que constitui a Aldeia Kondá foi desapropriada de seu território de origem, localizado no centro da cidade de Chapecó e atualmente situa-se na localidade da Água Amarela, na área rural do município. Com essa mudança de local, muito de suas identidades sofreram alterações e adaptações para uma nova realidade social e espacial. As transformações, que acontecem em um processo ininterrupto ao longo dos anos, devem-se parte em função do novo contexto físico e parte pelas relações interétnicas com a sociedade não indígena do entorno (Dill, 2020, p.143)."

Ainda, sobre as práticas culturais dessa comunidade, Dill (2020, p. 149) aponta que:


"A comunidade da Aldeia Kondá, apesar de ter sido retirada de sua terra de origem, é tida pelos demais grupos Kaingang do estado como a mais tradicional em termos de práticas culturais. Todos os seus integrantes são falantes na língua materna, seguem os costumes na constituição das uniões matrimoniais e moradias, além de terem como principal meio de subsistência, o artesanato. Passados mais de vinte anos da ocupação no novo território, a comunidade vem construindo novos laços e relações com essa terra. A localização das casas, a construção de espaços culturais e a organização espacial, vêm se transformando ininterruptamente e configuram na atualidade, um aspecto de diferenciação cultural em relação as sociedades envolventes."

As populações kaingangs que vivem no Oeste Catarinense enfrentam uma longa história de expropriação de suas terras e exploração de seus recursos, mas resistem bravamente. Mesmo com as dificuldades impostas pela sociedade não indígena, continuam preservando sua cultura, língua e tradições, como o ritual do KiKi, reafirmando sua identidade étnica. A divisão exogâmica em duas metades, Kamé e Kairu, também é um aspecto cultural importante que diferencia os kaingangs de outras etnias indígenas.

Os guarani, especificamente os mbyá guarani, também têm uma presença histórica significativa na região, conforme indicado por pesquisas arqueológicas e registros históricos. A ocupação desses territórios foi interrompida com a chegada dos colonizadores em 1923, na área de Araça'í, localizada nos municípios de Saudades e Cunha Porã. Desde então, os guarani foram forçados a se dispersar, refugiando-se em reservas xoklengs e kaingangs, mas mantiveram sua cultura, língua e tradições vivas, com o objetivo contínuo de retornar ao seu território original.

Ser indígena no Oeste Catarinense é resistir aos desafios impostos pela sociedade não indígena, que frequentemente nega suas especificidades culturais e identitárias. Apesar das dificuldades, os indígenas têm buscado garantir seus direitos constitucionais e o reconhecimento de sua cultura, ganhando visibilidade tanto na mídia quanto no cotidiano da região.

Referências:

CARBONERA, Mirian; LINO, Jaisson Teixeira; ONGHERO, André Luiz. Um passado distante, um patrimônio presente: o povoamento pré-colonial de Chapecó. In: ______ et al. (org.). Chapecó 100 anos: histórias plurais. Chapecó, SC: Argos, 2017. 

DILL, Fernanda Machado. Linguagem socioespacial: A dimensão espacial do modo de viver Kaingang. 2019. 267 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019.

FERREIRA, João. História indígena e territorialidade: os Kaingang de Santa Catarina. Florianópolis: Editora da UFSC, 2016.

Funai. Disponível em: http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/terras-indigenas

RODRIGUES e LIMA. Representações sobre os indígenas no Oeste Catarinense:  Análise das publicações do jornal Diário do Iguaçu (2001-2017). Disponível em: file:///C:/Users/Pref.xaxim/Downloads/flobosco,+dossie_tematico_1636+2%20(1).pdf

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